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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

REVENDO ALGUNS CONCEITOS

Muito do que se fez e faz em termos de prevenção de acidentes tem sua utilidade e lugar. No entanto – como toda atividade humana – também nossa área carece de evolução para fazer frente as novas necessidades e mesmo até para se superar na questão conceitual. Nenhuma área técnica pode ser estática.

Entre ano sai ano o número de vitimas de acidentes do trabalho em todo mundo continua sendo assustador. Obviamente sabemos que se não fossem as intervenções técnicas o quadro seria muito pior – mas quando falamos de vida – nenhum numero deve ser satisfatório. Pior ainda do que os acidentes são as conseqüências sociais advindas dos mesmos.

Com certeza o mundo ideal seria o mundo seguro: ele não existe ! Ao mesmo tempo sabemos que boa parte das atividades realizadas implicam em algum grau em risco e perigo. Nossa atividade profissional deve ser pautada entre os dois extremos – buscando o máximo de segurança possível dentro da realidade conhecida. Este ponto parece ser obvio – mas por toda parte encontramos verdadeiros exageros – infelizmente alguns deles causadores de acidentes – mesmo projetados para resultado contrário.

Um dos primeiros conceitos que precisamos rever diz respeito ao tal de risco zero e vemos por muitos lugares verdadeiras condutas febris na busca de um objetivo pelo menos utópico – e que muitas vezes faz com que a prevenção seja vista como um objetivo inatingível e por isso mesmo – folclórico e fadado ao descrédito. Todo ambiente com a participação humana deve levar em conta a mobilidade de situações – e assim – a prevenção será proporcionalmente maior o quanto soubermos cuidar para que as pessoas evoluam em conceito de eliminação e controle e não mais do que isso.

Devemos ter em vista dois conceitos – que podem soar mal aos ouvidos daqueles que pouco ou mal conhecem a prática prevencionista – mas que são realistas o bastante para sustentar um bom programa de prevenção. O primeiro deles diz respeito a taxa inerente – ou seja a aceitação de que determinada atividade ao longo de determinado tempo irá gerar algumas situações diferentes das planejadas: é assim com qualidade, é assim com produtividade e não poderia ser diferente com segurança – até por estar em meio as demais situações. Obviamente que não há taxa inerente para acidentes fatais ou mais graves – isso seria admitir o inadmissível – no entanto no que diz respeito a freqüência – um bom estudo e benchmarking poderão ser úteis no planejamento dos números de sua empresa. Interessante lembrar que as comparações devem ser feitas conhecendo os critérios das empresas – visto que como todos sabemos há estatísticas e Estatísticas por toda parte. Trabalhando com taxa inerente torna-se possível colocar o foco e atuação sobre coisas que de possam ser danosas aos trabalhadores – fugindo um pouco do sensacionalismo de ter que atacar as vezes situações naturais deixando de lado a consistência do programa prevencionista como um todo – na prática isso quer dizer – desviar toda atenção de um corpo técnico para atender um objetivo inatingível de uma gerencia.

O segundo conceito diz respeito ao risco aceitável. E ai entra forte a questão utópica do risco zero e mais ainda uma série de conceitos mais profundos da prevenção. Primeiro é preciso saber o que é um risco aceitável é isso não é trabalho muito fácil quando o programa de prevenção da empresa é imaturo e também sua equipe técnica. O termo aceitável é bastante amplo e beira o rol dos conceitos – mas há por toda parte ferramentas e meios que podem ser decisivos na definição. Bem sei que este tema pode encontrar resistência e reações por parte de alguns profissionais – mas com certeza é de bom grado que entendam que se nem todos riscos podem ser eliminados – e a prática mostra isso – se não trabalharmos com os conceitos adequados desenharemos uma prevenção irreal e daí em diante todos sabemos quais são os resultados.

O fato é que precisamos calcar a prevenção em mais bases e assim que os controles estejam distribuídos não apenas em uma ou duas variáveis – mas com certeza for possível. Se há risco no processo então cuidemos de ter trabalhadores mais hábeis, mais preparados, mais descansados: Façamos gestão para que a matéria prima seja melhorada: cuidemos para que o ambiente seja mais adequado e favorável. Tudo isso dá trabalho – mas não há prevenção efetiva fora disso. No mais cuidemos de mudar alguns conceitos – chega de ver em empresas placas dizendo que SEGURANÇA É IMPORTANTE – e comecemos a trabalhar para o entendimento de que segurança é necessária e essencial. Deixemos também de lado o entendimento de que segurança é algo a mais – isso é péssimo – segurança é parte inerente é pronto !!!!

Um outro item a ser observado – e bem observado – diz respeito a sensação de impossibilidade que metas como risco zero podem causar na alta direção. Verdade seja dita que se fossemos trabalhar na busca de risco zero a grande maioria dos negócios como conhecemos e concebemos hoje seriam inviabilizados. Parte desta cultura assombra e afugenta a alta direção dos conceitos prevencionistas – afinal de contas embora exista por ai a máxima de que prevenção é lucro – raramente consegue-se provar tal resultado com programas equivocados e parciais como tanto vemos. E comum ouvirmos o lamento e reclamos de empresários que alegam ter investido pequenas fortunas e as condições não mudaram – deveriam sim investir em nova equipe técnica especializada – pois imaginar que a simples comprar de equipamentos e meios pode alterar o quadro prevencionista é pelo menos engraçado: produção – e acidente – não se faz apenas com uma parte do processo – e assim – programa de prevenção que só olha um aspecto é pelo menos ruim na sua concepção. E a coisa não para ai: há também a ótica dos empregados – alias essencial para um bom programa prevencionista. Para muitos empregados – prevenção rima com proibição – até porque o “é proibido” encontra-se em nove de dez linhas escritas em procedimentos e instruções. Esquecem que entre o papel e o homem há o direito a compreensão – a mesma alias que se espera que ele tenha em forma de discernimento quando diante de uma situação de risco: Ora, se apenas proibimos e não dizemos ou convencemos do porque – falhamos entre a eficiência e eficácia. O grande problema dos programas de segurança talvez resida em algo básico nas relações humanas: o desrespeito ao usuário final. Situações como esta cooperaram e cooperam todos dias para que os trabalhadores tenham aversão a prevenção de acidentes.

Enfim, há sempre possibilidade para reavaliar o que fazemos – antes que alguém de fora faça por nós.

Cosmo Palasio de Moraes Jr
cpalasio@uol.com.br

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